sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Revolução e Contra-Revolução de Plinio Corrêa de Oliveira








A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra toda autoridade e toda lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil. É o aspecto liberal da Revolução." (Parte I, Introdução)

Parte I

Capitulo IV
As Metamorfoses do Processo Revolucionário

Como se depreende da análise feita no capítulo anterior, o processo revolucionário é o desenvolvimento, por etapas, de certas tendências desregradas do homem ocidental e cristão, e dos erros delas nascidos.

Em cada etapa, essas tendências e erros têm um aspecto próprio. A Revolução vai, pois, se metamorfoseando ao longo da História.

Essas metamorfoses que se observam nas grandes linhas gerais da Revolução, se repetem, em ponto menor, no interior de cada grande episódio dela.

Assim, o espírito da Revolução Francesa, em sua primeira fase, usou máscara e linguagem aristocrática e até eclesiástica. Freqüentou a corte e sentou-se à mesa do Conselho do Rei.

Depois, tornou-se burguês e trabalhou pela extinção incruenta da monarquia e da nobreza, e por uma velada e pacífica supressão da Igreja Católica.

Logo que pôde, fez-se jacobino, e se embriagou de sangue no Terror.

Mas os excessos praticados pela facção jacobina despertaram reações. Ele voltou atrás, percorrendo as mesmas etapas. De jacobino transformou-se em burguês no Diretório, com Napoleão estendeu a mão à Igreja e abriu as portas à nobreza exilada, e, por fim, aplaudiu a volta dos Bourbons. Terminada a Revolução Francesa, não termina com isto o processo revolucionário. Ei-lo que torna a explodir com a queda de Carlos X e a ascensão de Luís Felipe, e assim por sucessivas metamorfoses, aproveitando seus sucessos e mesmo seus insucessos, chegou ele até o paroxismo de nossos dias.

A Revolução usa, pois, suas metamorfoses não só para avançar, como também para operar os recuos táticos que tão freqüentemente lhe têm sido necessários.

Por vezes, movimento sempre vivo, ela tem simulado estar morta. E é esta uma de suas metamorfoses mais interessantes. Na aparência, a situação de um determinado país se apresenta como inteiramente tranqüila. A reação contra-revolucionária se distende e adormece. Mas, nas profundidades da vida religiosa, cultural, social, ou econômica, a fermentação revolucionária vai sempre ganhando terreno. E, ao cabo desse aparente interstício, explode uma convulsão inesperada, freqüentemente maior que as anteriores.

Capítulo V
As Três Profundidades da Revolução: Nas tendências, nas idéias, nos fatos

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1. A REVOLUÇÃO NAS TENDÊNCIAS

Como vimos, essa Revolução é um processo feito de etapas, e tem sua origem última em determinadas tendências desordenadas que lhe servem de alma e de força propulsora mais íntima . Assim, podemos também distinguir na Revolução três profundidades, que cronologicamente até certo ponto se interpenetram. A primeira, isto é, a mais profunda, consiste em uma crise nas tendências. Essas tendências desordenadas, que por sua própria natureza lutam por realizar-se, já não se conformando com toda uma ordem de coisas que lhes é contrária, começam por modificar as mentalidades, os modos de ser, as expressões artísticas e os costumes, sem desde logo tocar de modo direto - habitualmente, pelo menos - nas idéias.

2. A REVOLUÇÃO NAS IDÉIAS

Dessas camadas profundas, a crise passa para o terreno ideológico. Com efeito - como Paul Bourget pôs em evidência em sua célebre obra Le Démon du Midi - “cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu” . Assim, inspiradas pelo desregramento das tendências profundas, doutrinas novas eclodem. Elas procuram por vezes, de início, um modus vivendi com as antigas, e se exprimem de maneira a manter com estas um simulacro de harmonia que habitualmente não tarda em se romper em luta declarada.

3. A REVOLUÇÃO NOS FATOS

Essa transformação das idéias estende-se, por sua vez, ao terreno dos fatos, onde passa a operar, por meios cruentos ou incruentos, a transformação das instituições, das leis e dos costumes, tanto na esfera religiosa quanto na sociedade temporal. É uma terceira crise, já toda ela na ordem dos fatos.

4. OBSERVAÇÕES DIVERSAS

A. As profundidades da Revolução não se identificam com etapas cronológicas

Essas profundidades são, de algum modo, escalonadas. Mas uma análise atenta evidência que as operações que a Revolução nelas realiza de tal modo se interpenetram no tempo, que essas diversas profundidades não podem ser vistas como outras tantas unidades cronológicas distintas.

B. Nitidez das três profundidades da Revolução

Essas três profundidades nem sempre se diferenciam nitidamente umas das outras. O grau de nitidez varia muito de um caso concreto a outro.

C. O processo revolucionário não é incoercível

O caminhar de um povo através dessas várias profundidades não é incoercível, de tal maneira que, dado o primeiro passo, ele chegue necessariamente até o último, e resvale para a profundidade seguinte. Pelo contrário, o livre arbítrio humano, coadjuvado pela graça, pode vencer qualquer crise, como pode deter e vencer a própria Revolução. Descrevendo esses aspectos, fazemos como um médico que descreve a evolução completa de uma doença até a morte, sem pretender com isto que a doença seja incurável.

Parte II

Capitulo IV
O que é um contra-revolucionário?

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Pode-se responder à pergunta em epígrafe de duas maneiras:

1. EM ESTADO ATUAL

Em estado atual, contra-revolucionário é quem:

- Conhece a Revolução, a ordem e a Contra-Revolução em seu espírito, suas doutrinas, seus métodos respectivos.

- Ama a Contra-Revolução e a ordem cristã, odeia a Revolução e a “anti-ordem”.

- Faz desse amor e desse ódio o eixo em torno do qual gravitam todos os seus ideais, preferências e atividades.
Claro está que essa atitude de alma não exige instrução superior. Assim como Santa Joana D Arc não era teólogo mas surpreendeu seus juizes pela profundidade teológica de seus pensamentos, assim os melhores soldados da Contra-Revolução, animados por uma admirável compreensão do seu espírito e dos seus objetivos, têm sido muitas vezes simples camponeses, da Navarra, por exemplo, da Vendéa ou do Tirol.

2. EM ESTADO POTENCIAL

Em estado potencial, contra-revolucionários são os que têm uma ou outra das opiniões e dos modos de sentir dos revolucionários, por inadvertência ou qualquer outra razão ocasional, e sem que o próprio fundo de sua personalidade esteja afetado pelo espirito da Revolução. Alertadas, esclarecidas, orientadas, essas pessoas adotam facilmente uma posição contra-revolucionária. E nisto se distinguem dos “semicontra-revolucionários” de que atrás falávamos[1].

[1] Parte I - Cap. IX.

Capítulo V
A Tática da Contra-Revolução

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A Tática da Contra-Revolução pode ser considerada em pessoas, grupos, ou correntes de opinião, em função de três tipos de mentalidade: o contra-revolucionário atual, o contra-revolucionário potencial e o revolucionário.

1. EM RELAÇÃO AO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO ATUAL

O contra-revolucionário atual é menos raro do que nos parece à primeira vista. Possui ele uma clara visão das coisas, um amor fundamental à coerência e um ânimo forte. Por isto tem uma noção lúcida das desordens do mundo contemporâneo e das catástrofes que se acumulam no horizonte. Mas sua própria lucidez lhe faz perceber toda a extensão do isolamento em que tão freqüentemente se encontra, num caos que lhe parece sem solução. Então o contra-revolucionário, muitas vezes, se cala, abatido. Triste situação: “Vae soli”, diz a Escritura[1].

[1] Ecle. 4,10.

Uma ação contra-revolucionária deve ter em vista, antes de tudo, detectar esses elementos, fazer com que se conheçam, com que se apoiem uns aos outros para a profissão pública de suas convicções. Ela pode realizar-se de dois modos diversos:

A. Ação individual

Esta ação deve ser feita antes de tudo na escala individual. Nada mais eficiente que a tomada de posição contra-revolucionária franca e ufana de um jovem universitário, de um oficial, de um professor, de um Sacerdote sobretudo, de um aristocrata ou um operário influente em seu meio. A primeira reação que obterá será por vezes de indignação. Mas se perseverar por um tempo que será mais longo, ou menos, conforme as circunstâncias, verá, pouco a pouco, aparecerem companheiros.

B. Ação em conjunto

Esses contactos individuais tendem, naturalmente, a suscitar nos diversos ambientes vários contra-revolucionários que se unem numa família de almas cujas forças se multiplicam pelo próprio fato da união.

2. EM RELAÇÃO AO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO POTENCIAL

Os contra-revolucionários devem apresentar a Revolução e a Contra Revolução em todos os seus aspectos, religioso, político, social, econômico, cultural, artístico, etc. Pois os contra-revolucionários potenciais as vêem em geral por alguma faceta particular apenas, e por esta podem e devem ser atraídos para a visão total de uma e de outra. Um contra-revolucionário que argumentasse apenas em um plano, o político, por exemplo, limitaria muito seu campo de atração, expondo sua ação à esterilidade, e, pois, à decadência e à morte.

3. EM RELAÇÃO AO REVOLUCIONÁRIO

A. A iniciativa contra-revolucionária

Em face da Revolução e da Contra-Revolução não há neutros. Pode haver, isto sim, não combatentes, cuja vontade ou cujas veleidades estão, porém, conscientemente ou não em um dos dois campos. Por revolucionários entendemos, pois, não só os partidários integrais e declarados da Revolução, como também os “semicontra-revolucionários”.

A Revolução tem progredido, como vimos, à custa de ocultar seu vulto total, seu espirito verdadeiro, seus fins últimos.

O meio mais eficiente de refutá-la junto aos revolucionários consiste em mostrá-la inteira, quer em seu espirito e nas grandes linhas de sua ação, quer em cada uma de suas manifestações ou manobras aparentemente inocentes e insignificantes. Arrancar-lhe, assim, os véus é desferi-lhe o mais duro dos golpes.

Por esta razão, o esforço contra-revolucionário deve entregar-se a esta tarefa com o maior empenho.

Secundariamente, é claro, os outros recursos de uma boa dialética são indispensáveis para o êxito de uma ação contra-revolucionária.

Com o “semicontra-revolucionário”, como aliás também com o revolucionário que tem “coágulos” contra-revolucionários, há certas possibilidades de colaboração, e esta colaboração cria um problema especial: até que ponto é ela prudente? A nosso ver, a luta contra a Revolução só se desenvolve convenientemente ligando entre si pessoas radical e inteiramente isentas do vírus desta. Que os grupos contra-revolucionários possam colaborar com elementos como os acima mencionados, em alguns objetivos concretos, facilmente se concebe. Mas, admitir uma colaboração onímoda e estável com pessoas infectadas de qualquer influência da Revolução é a mais flagrante das imprudências e a causa, talvez, da maior parte dos malogros contra-revolucionários.

B. A contra-ofensiva revolucionária

O revolucionário, em via de regra, é petulante, verboso e afeito à exibição, quando não tem adversários diante de si, ou os tem fracos. Contudo, se encontra quem o enfrente com ufania e arrojo, ele se cala e organiza a campanha de silêncio. Um silêncio em meio ao qual se percebe o discreto zumbir da calúnia, ou algum murmúrio contra o “excesso de lógica” do adversário, sim. Mas um silêncio confuso e envergonhado que jamais é entrecortado por alguma réplica de valor. Diante desse silêncio de confusão e derrota, poderíamos dizer ao contra-revolucionário vitorioso as palavras espirituosas escritas por Veuillot em outra ocasião: “Interrogai o silêncio, e ele nada vos responderá[2].

[2] Oeuvres Complètes, P. Lethielleux Librairie-Editeur, Paris, vol. XXXIII, p. 349.

4. ELITES E MASSAS NA TÁTICA CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

A Contra-Revolução deve procurar, quanto possível, conquistar as multidões. Entretanto, não deve fazer disso, no plano imediato, seu objetivo principal, e um contra-revolucionário não tem razão para desanimar pelo fato de que a grande maioria dos homens não está atualmente de seu lado. Um estudo exato da Historia nos mostra, com efeito, que não foram as massas que fizeram a Revolução. Elas se moveram num sentido revolucionário porque tiveram atrás de si elites revolucionárias. Se tivessem tido atrás de si elites de orientação oposta, provavelmente se teriam movido num sentido contrário. O fator massa, segundo mostra a visão objetiva da História, é secundário; o principal é a formação das elites. Ora, para essa formação, o contra-revolucionário pode estar sempre aparelhado com os recursos de sua ação individual, e pode pois obter bons frutos, apesar da carência de meios materiais e técnicos com que, às vezes, tenha que lutar.

Fonte:http://www.revolucao-contrarevolucao.com