Santo Sacrifício da Missa
1. Noção de sacrifício; relação entre os sacrifícios do Antigo Testamento; o sacrifício da Cruz e o sacrifício da Missa
Que é sacrifício?
Sacrifício é um dom visível que se oferece a Deus para reconhecê-Lo e adorá-Lo como nosso supremo Senhor.
A intenção de honrar e adorar a Deus como supremo Senhor, é expressa pela própria ação do sacrifício, pois a oferta visível é destruída totalmente ou em parte, e assim oferecida a Deus. Por esta destruição, o homem confessa que Deus é o Senhor da vida e da morte, de existir e do não existir de todos os seres, em uma palavra, que Ele é o supremo Senhor.
Houve sacrifícios em todos os tempos?
Houve sacrifícios desde o princípio do mundo, e, no Antigo Testamento, foram ordenados rigorosamente por Deus.
Por que foram abolidos os sacrifícios da lei antiga?
Os sacrifícios da lei antiga foram abolidos, porque eram só figuras do Sacrifício imaculado do Novo Testamento.
Qual é o sacrifício do Novo Testamento?
O sacrifício do Novo Testamento é o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus, que, pela sua morte na cruz se ofereceu a seu Pai Celestial em sacrifício por nós.
Onde o sacrifício da Cruz é contínuamente renovado, de modo incruento?
O sacrifício da cruz é contínuamente renovado de modo incruento, no santo Sacrifício da Missa.
Que diferença há entre o santo sacrifício da Missa e o sacrifício da Cruz?
O santo sacrifício da Missa é completamente o mesmo que Cristo ofereceu na cruz, pois é o mesmo Sacerdote e a mesma Vítima; a diferença está unicamente na ação do sacrifício ou no modo e maneira de sacrificar.
O Sacerdote propriamente dito, em ambos os sacrifícios, é o próprio Cristo, pois na santa Missa, o Padre é o representante de Cristo, em cujo nome pronuncia as palavras. "Isto é o meu corpo - isto é o meu sangue". Em ambos os sacrifícios, o próprio Cristo, isto é, sua santa Humanidade é também a Vítima. Na santa Missa, usam-se pão e vinho unicamente para serem transformados no corpo e no sangue de Jesus Cristo. Na cruz, a ação do sacrifício consistiu em Cristo se sacrificar, oferecendo ao Pai Celestial sua morte cruenta suportada voluntariamente; na santa Missa a ação do sacrifício consiste em Cristo sacrificar, oferecendo, de novo ao Pai Celestial a mesma morte, de modo incruento.
Que é, pois, o santo sacrifício da Missa?
O santo sacrifício da Missa é o sacrifício perpétuo do Novo Testamento, pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do sacerdote e, sob as espécies de pão e vinho, se oferece ao Pai Celestial.
2. Profecias, instituição e constante celebração do Santo Sacrifício da Missa.
Como foi predito, já no Antigo Testamento, o santo sacrifício da Missa?
No Antigo Testamento, a santa Missa,
1) foi claramente prefigurada pelo sacrifício de Melquisedeque;
Como Melquisedeque ofereceu pão e vinho (Gênesis XIV, 18), assim também Cristo se oferece debaixo das espécies de pão e vinho, até o fim do mundo. Por isso também diz o Salmo 109 a respeito do Messias: "Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque". - Também as oblações do Antigo Testamento eram figuras do santo sacrifício da Missa, porém, eram figuras menos perfeitas que o sacrifício de Melquisedeque.
2) foi expressamente profetizada pelo profeta Malaquias.
"O meu afeto não está em vós (judeus), diz o Senhor dos exércitos, nem eu aceitarei oferenda alguma da vossa mão. Porque desde o nascer do aol até ao poente, o meu nome é grande entre as nações, e em todo o lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura". (Malaq. I, 10-11)
Quando Jesus Cristo instituiu o santo sacrifício da Missa?
Jesus Cristo instituiu o santo sacrifício da Missa na última ceia, onde Ele mesmo primeiro a ofereceu e depois disse aos Apóstolos: "Fazei isto em memória de Mim".
Como provamos que desde os Apóstolos se celebrou sempre o santo sacrifício da Missa?
Provamos que desde os Apóstolos sempre se celebrou o santo sacrifício da Missa:
1) Pelas palavras de S. Paulo: "Nós (os cristãos) temos um altar, do qual os (sacerdotes judeus) que servem ao tabernáculo não têm faculdade de comer". (Hebr. XIII, 10)
2) Pelos testemunhos inegáveis dos Santos Padres, pelas decisões dos Concílios, pelas antigas orações da Missa e por outros monumentos da Igreja oriental e ocidental.
"Quando Cristo disse: Isto é o meu corpo, etc., ensinou Ele o sacrifício do Novo Testamento que a Igreja recebeu dos Apóstolos e agora oferece a Deus, no mundo inteiro". (Sto. Inineu, +202)
Santo Sacrifício da Missa
3. Fim e frutos da Santa Missa
Para que fim instituiu Jesus Cristo o santo sacrifício da Missa?
Jesus Cristo instituiu o santo sacrifício da Missa:
1) para glorificar continuamente a Deus, do modo mais perfeito;
2) para tornar presente, em todos os tempos, o sacrifício da cruz;
3) para aplicar-nos sempre os frutos da mesma.
Como se realiza na santa Missa o seu fim de glória a Deus do modo mais perfeito e de aplicar-nos os frutos do sacrifício da cruz?
O santo sacrifício da Missa realiza este fim:
1) Enquanto, como sacrifício latrêutico, dá a Deus a maior glória;
2) como sacrifício eucarístico, rende-lhe a mais perfeita ação de graças por todos os seus benefícios;
3) como sacrifício propiciatório, reconcilia o Deus ofendido e apresenta-lhe satisfação por nossos pecados;
4) como sacrifício impetratório, alcança-nos as mais preciosas graças em todas as necessidades do corpo e da alma.
Em que consistem os frutos da santa Missa pra nós?
Os principais frutos que colhemos da santa Missa consistem em que:
1) como sacrifício propiciatório, a santa Missa aplaca a ira de Deus e alcança-nos remissão das penas temporais;
2) como sacrifício impetratório, alcança-nos toda a sorte de graças que precisamos para o corpo e para a alma.
A quem se estendem os frutos da santa Missa?
Os frutos da santa Missa se estendem, em certo grau, a todos os membros da Igreja, aos vivos e defuntos, mas especialmente:
1) ao sacerdote que celebra o santo sacrifício;
2) àqueles por quem especialmente é oferecido;
3) a todos que assistem devotamente ao sacrifício.
A quem oferecemos o santo sacrifício da Missa?
Oferecemos o santo sacrifício da Missa unicamente a Deus, ainda que nela também celebramos a memória dos Santos.
Como honramos a memória dos Santos durante a Missa?
Honramos a memória dos Santos durante a Missa:
1) agradecendo a Deus as graças e a glória que lhes concedeu;
2) pedindo a Deus que, pelos méritos e intercessão dos mesmos, nos seja propício.
4. Do modo de assistir à Missa.
Quantas coisas são necessárias para ouvir bem e com fruto a santa Missa?
Para ouvir bem e com fruto a santa Missa são necessárias duas coisas: 1o. modéstia exterior, 2o. devoção interior.
Em que consiste a modéstia exterior?
A modéstia exterior consiste particularmente em estar modestamente vestido, em observar o silêncio e o recolhimento, e em estar, quanto possível, de joelhos, excetuando o tempo dos dois evangelhos, que se ouvem estando de pé.
Ao ouvir a santa Missa qual é o melhor modo de praticar a devoção interior?
O melhor modo de praticar a devoção interior ao ouvir a santa Missa é o seguinte: 1o. unir, desde o começo, a própria intenção à do sacerdote, oferecendo a Deus o Santo Sacrifício para os fins por que foi instituído; 2o. acompanhar o sacerdote em cada uma das orações e ações do Sacrifício; 3o. meditar a Paixão e morte de Jesus Cristo e detestar, de todo o coração, os pecados que Lhe deram causa; 4o. fazer a comunhão sacramental, ou ao menos a espiritual, ao tempo em que o sacerdote comunga.
Que é a Comunhão espiritual?
A Comunhão espiritual é um grande desejo de se unir sacramentalmente a Jesus Cristo, dizendo por exemplo: "Meu Senhor Jesus Cristo, eu desejo de todo o meu coração unir-me a Vós agora e por toda a eternidade"; e fazendo os mesmos atos que se fazem antes e depois da Comunhão sacramental.
Impede ouvir a Missa com fruto a recitação do Rosário ou de outras orações durante o Santo Sacrifício?
A recitação destas oraçòes não impede ouvir com fruto a Missa, desde que haja um esforço possível de seguir as cerimônias do Santo Sacrifício.
É coisa boa também rezar pelos outros, quando se assiste à Santa Missa?
É coisa boa rezar também pelos outros, quando se assiste à Santa Missa; e até o tempo da santa Missa é o mais oportuno para rezar pelos vivos e pelos mortos.
Terminada a Missa, que se deve fazer?
Terminada a Missa, devemos dar graças a Deus por nos ter concedido a graça de assistir a este grande sacrifício e pedir-Lhe perdão das faltas cometidas enquanto a assistíamos.
(Texto do Catecismo Maior de S. Pio X, cap. V, item II, 1905)
5. Origem da Palavra Missa
Três etimologias foram lembradas: o grego músis (iniciação), o hebráico missah (unctio?) e o latim missa.
a) A origem da palavra não pode ser nem o grego nem o hebraico. A razão é simples. Como o Cristianismo veio do Oriente, todas as palavras litúrgicas de origem grega ou hebraica são registradas na Liturgia ou na Literatura das Igrejas Orientais. Ora, isto não sucede com a palavra missa, que é privativa da Igreja Latina.
b) Logo, missa vem do latim. E aqui podemos supor duas origens: o feminino do adjetivo missus, que quer dizer enviado, e um substantivo missa, com o sentido de demissão, ato de despedir, despedimento.
O adjetivo missa não pode ser a origem do termo litúrgico, porque, nesse caso, seria preciso pensar num substantivo oculto. Exemplos: gramática (arte), domingo, ou dominga (dies, dos dois gêmeos em latim), reta (linha), expresso (trem), etc. Por isso, os autores que derivam missa de um adjetivo subentendem a palavra vítima e dizem que a frase Ite, missa est equivale a: Ite, victima missa est. Mas esta frase não tem sentido. Com efeito, a sua tradução é: Ide-vos, a vítima foi enviada. Ora, uma vitima não se envia. É destruída. Em nenhum sacrifício há lugar para se supor que se envie uma vítima.
Portanto, só resta uma hipótese - o substantivo missa. De fato, este substantivo é uma segunda forma do termo clássico missio, derivado do verbo mittere, e cujo significado é o que demos acima: ato de mandar embora. A substituição da forma abstrata missio por uma forma concreta missa é, aliás, processo lingüístico comum no latim. Oblatio, collectio e ultio foram substituidos respectivamente por oblata, collecta e ulta. Os novos substantivos promessa e remessa vieram de promissa e remissa, que estão em lugar de promissio e remíssio, da mesma raiz que missa.
Lembremos, por fim, que a palavra saiu da expressão Ite, missa est e indicava apenas uma parte do ofício e não o ofício todo. É o que acontece com os termos confissão e comunhão, usados pelo sacramento da Penitência e pela Eucaristia. Na realidade são partes ou fases do sacramento.
Aliás, a expressão já existia no latim antes de passar para o uso eclesiástico. Ite, missa est era a fórmula usada para terminar as audiências do paço e dos tribunais de justiça. Diz Avito de Viena: "Nas igrejas e nas cortes do imperador e do prefeito se diz missa est quando o povo é despedido da audiência." (1)
Na Regra de S. Bento, encontra-se sempre a fórmula missae fiunt no fim das horas canônicas para significar: fim das orações. Neste mesmo sentido está empregada a palavra na Peregrinatio Sylviae, em Santo Isidoro de Sevilha e outros.
No sentido atual, o termo é encontrado pela primeira vez na Epístola que Santo Ambrósio escreveu a sua irmã Santa Marcelina.(2) Referindo-se aos distúrbios provocados pelos Arianos durante um ofício religioso, diz ele: "Porém eu fiquei em meu lugar e comecei a dizer a missa: Missam facere cepi"(3)
Parece ter havido dois ite, missa est na missa primitiva. Com o primeiro se despediam os catecúmenos, conforme diz Santo Agostinho: "Depois do sermão se faz a missa (despedida) dos catecúmenos". (4) Com o segundo, que permanece até hoje, se despediam os fiéis. É o que consta da Peregrinatio Sylviae: "O sacerdote abençoa os fiéis e faz-se a missa, isto é, a despedida".(5)
(1) Avito de Viena, bispo Epist. I, LIX, pág. 199, Patres Latini.
(2) Santo Ambrósio, bispo de Milão, faleceu em 397.
(3) Epistola I, XX.
(4) "Post sermonem fit missa catechumenorum".
(5) "Benecit fideles et fit missa".