«A espiritualidade como exegese»: é o título de um breve artigo com o qual a pequena revista monástica «Camaldoli», editada pela comunidade de Camaldoli, em 1952, abria um novo horizonte para compreender e viver o caminho espiritual do monge, entendido como atualização da história salvífica de Deus, testemunhada pela Escritura, celebrada na liturgia, em caminho para a sua completude no eschaton.[1]
Seu autor, Divo Barsotti, sacerdote florentino com profunda sensibilidade monástica e experiente conhecedor dos Padres da Igreja e do antigo monaquismo oriental e russo, estava em íntima relação com o movimento do ressourcement[2] patrístico que, nos países de língua francesa, havia décadas, estava redescobrindo e repropondo a vitalidade teológica e espiritual da exegese dos Padres da Igreja e de seus comentários da liturgia.
Contudo, na Itália, sobretudo no ambiente camaldulense, tal perspectiva era ainda uma novidade, exceto em alguns pequenos grupos que haviam entrado em contato, nos anos trinta, com o movimento litúrgico francês, belga e alemão.
«A espiritualidade cristã – afirmava Divo Barsotti – tem uma de suas fontes principais na exegese tipológica e espiritual da Sagrada Liturgia... A exegese tipológica nos mostra como os acontecimentos dos tempos antigos, as obras de Deus, continuam hoje presentes, atuais, porque realizadas por ele no coração do homem. A espiritualidade cristã, precisamente por esta exegese, é menos uma doutrina que uma história: não mais a história do antigo Israel, mas da alma cristã. Por isto, os livros de exegese espiritual não são livros de doutrina, mas testemunhos de experiência interior (basta pensar em São João da Cruz)».[3] leggere...
[1] D. BARSOTTI, La spiritualità come esegesi; in Camaldoli – Bollettino Trimestrale, VI, n. 31 (1952) 124-129.