Viver com simplicidade a vida cristã na fé e na esperança
Nesta relação tão estranha, porque é realmente estranho se pensarmos bem nela, a alma vive uma vida completamente nova em relação às vidas dos homens que não têm fé.
Para uma alma que tem fé é impossível pôr de lado este Deus. Mesmo que tentes afastar-te, por causa do medo que tens, não podes fazê-lo porque ao mesmo tempo Ele te atrai.
Então, o que acontece? Acontece que a vossa vida é dramática: os outros podem viver em paz, mas é a paz da morte. Não vivemos em paz!
Ele disse: "Eu não vim para trazer a paz, mas a guerra"!
É um drama que vivemos, é uma luta terrível que o homem vive, não só porque o homem é homem e Deus é Deus, mas porque o homem nunca é autónomo: ou é dependente de Deus ou é dependente do maligno, do mal , e a vida cristã é uma luta, o campo de batalha é o vosso coração!
Por um lado, há Deus que não luta, mas faz se presente e sua presença vence todos os horrores do mal. Por outro lado, porém, há o maligno que se insunua e luta contigo, quer tomar posse de ti. Além de ser um sentimento de medo e atração, a vida religiosa cristã, na sua experiência, é também uma experiência de luta que se realiza dentro de ti. Esquece a paz! A paz virá, mas no cume, quando você tiver chegado ao topo você pode descansar, mas durante a viagem, tome cuidado para não parar porque é perigoso, você pode escorregar e cair.
Você pode olhar e ter uma sensação de medo quando você vê os penhascos que o cercam de todos os lados. Na nossa vida religiosa vivemos uma luta terrível.
É Deus que permite, e é o maligno que em todos os sentidos quer tomar posse de nós, mas Deus protege-nos com uma condição: que tenhamos confiança.
Portanto, além da fé, precisamos de esperança, o que a nossa irmã disse nas orações desta noite: " aumentai em nós Senhor a fé, a esperança e a caridade ".
A fé não pode ir sozinha porque a fé nos diz as exigências de Deus, mas não nos dá forças para as satisfazer, é preciso confiar na ajuda de Deus, é preciso acreditar que Deus não nos abandona, é preciso saber que Ele estará disposto a ajudar-nos nas nossas necessidades, nos nossos perigos: ai se perdermos esta confiança na sua ajuda! Sós não podemos fazer nada.
Além da fé, precisamos de uma esperança viva.
A Fé sem a esperança é a morte porque a fé não estabelece uma unidade no amor.
Dá-nos o sentido da grandeza de Deus, o sentido da pequenez do homem, mas como podemos unir estes dois, homem e Deus, se não têm nada em comum?
Em comum está a confiança, a comunhão de vida é a confiança que a cria, porque a alma que viu Deus, que sentiu a necessidade de l tender a Ele, agora se entrega à sua providência, se coloca nas mãos de Deus, se deixa levar, mas com uma condição: deve ter cega confiança nele!
Devemos fechar os olhos, não ter medo: só assim se realizarão as obras de Deus.
- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)