Com o Motu Proprio Summorum Pontificum, Papa denominou o rito romano antigo de “forma extraordinária do rito romano”. Qual o sentido dessa expressão?
Antes de tudo, cumpre salientar que a forma extraordinária, ou rito antigo, ou rito tradicional, ou Missa tridentina, está em pé de igualdade com a forma ordinária, assegura o mesmo Papa. Segundo a Cúria Romana e pronunciamentos do Pontífice, ela deve ser amplamente promovida e difundida, os Bispos não lhe podem empecilhos, todos são convidados a celebrá-la ou assisti-la etc.
É lícito, ademais, argüir que essa forma extraordinária contém elementos que talvez não devessem ter sido removidos quando da reforma litúrgica de Paulo VI, ou que ela representa melhor a nossa cultura que não é puramente romanas, mas mesclada com os elementos culturais galicanos e, enfim, se encaixa mais perfeitamente na esteira do desenvolvimento harmônico da liturgia...
Todavia, esse modo de celebrar o rito romano como celebrava a Igreja latina até 1970 é hoje uma forma extraordinária, não a ordinária. O que quer dizer o Papa com isso?
Podemos difundir a forma extraordinária. Podemos amar a forma extraordinária. Podemos querer que a forma extraordinária esteja em todas as dioceses. Mas, além disso, é preciso promover a forma ordinária bem celebrada, justamente porque ela é, ordinária, comum, usual, majoritária. Aliás, o Papa fala de mútua influência entre as formas, e um dos modos disso acontecer é justamente popularizando a Missa antiga para que aqueles que celebram mal a Missa nova possam fazer uma comparação e se empenhar na correta celebração também dessa nova.
Com o tempo, por uma “reforma da reforma” que seja orgânica, é bem possível que elementos antigos da Missa e extirpados nos anos 70, hoje encontrados na forma extraordinária, sejam reincorporados ao rito usual de Paulo VI. Teríamos, assim, no futuro, um rito romano unificado, com textos, rubricas e cerimônias das duas formas: “o melhor” dos dois Missais, diríamos em linguagem popular.
Antes que isso acontece, e independentemente de acontecer, o indulto universal para a forma extraordinária deve, além de favorecer um espírito de tolerância entre os diversos grupos presentes na Igreja – tolerância essa que deve conduzir à caridade fraterna e aceitação plena –, criar condições para que o esplendor e a sacralidade – normais na forma extraordinária justamente porque, além de contar com rubricas mais precisas e detalhadas, ela é a procurada por católicos insatisfeitos com a verdadeira bagunça ritual na maioria das paróquias – sejam “populares” também na forma ordinária.
Quem vê a Missa celebrada pelo Papa, ou as Missas dos Legionários de Cristo, dos padres do Opus Dei, dos Cônegos Regulares de São João Câncio, dos Missionários Franciscanos do Verbo Eterno, dos Franciscanos da Imaculada, e de uma série de mosteiros beneditinos e cistercienses, encontra uma forma ordinária, moderna, do rito romano, bem celebrada, com sacralidade, respeito às rubricas, latim, incenso, padre eventualmente versus Deum, e o adequado esplendor litúrgico. Uma Missa assim não afasta os que procuram a forma extraordinária para fugir ao caos – ainda que possam torcer o nariz também para ela alguns mais radicais daqueles que preferem a Missa antiga por razões teológicas, criticando a nova por supostos defeitos. Também não afasta os que preferem a Missa antiga e a consideram mais adequadamente transmissora do ensinamento eucarístico, mas respeitam a nova e sabem-na não só válida, como lícita, legítima e santificante – como é o caso da Administração Apostólica, da Fraternidade São Pedro, do Barroux, dos redentoristas transalpinos de Papa Stronsay, do Instituto Cristo Rei etc.
Promover que a Missa, na forma ordinária mesmo, seja celebrada conforme as rubricas – e isso não deixa de ser uma aproximação externa entre as duas formas – é também fazer o que pede o Papa.
O rito extraordinário é isso: extraordinário. Façamos sua promoção! Mas não esqueçamos de promover o ORDINÁRIO, o comum que encontramos nas nossas paróquias, para que seja melhor celebrado. Pouco adianta termos, lado a lado, uma excelente e piedosa Missa tridentina, e uma Missa nova mal celebrada, desdenhosa do latim, do incenso, do versus Deum e do gregoriano, com padres sem casula, sem sacralidade e sem amor às rubricas... A Missa antiga não é a “versão da Missa para conservadores” e a nova também não é a “versão para os que aceitam a bagunça”. Se a forma extraordinária deve ser difundida, a forma ordinária, tal como celebrada hoje na imensa maioria do Brasil, deve ser reconduzida ao lugar em que figura no Missal. Se a extraordinária precisa ser promovida, o modo como se oferece a ordinária na grande maioria das paróquias brasileiras deve ser corrigido.
Queremos não só a Missa tridentina... Queremos, na Missa nova, na forma ordinária, nessa que temos nas nossas paróquias, a Missa do Missal! Não é só em Roma, ou só os legionários, ou só a Obra, ou só monges, que devem celebrar a forma ordinária com sacralidade e fausto....
ffonte:Salvem a Liturgia