domingo, 20 de junho de 2010

Um dia depois da morte do Nobel da Literatura de 1998, o diário da Santa Sé publica um obituário intitulado “A (presumível) omnipotência do narrador”, assinado por Claudio Toscani. “Foi um homem e um intelectual de nenhuma admissão metafísica, ancorado até ao final numa confiança arbitrária no materialismo histórico, aliás marxismo”, lê-se no artigo.

 
"Roma locuta, causa finita est"
Às vezes ainda penso se as coisas por cá não serão feitas a medo de ferir ou de colocar em causa a paz podre em que vivemos. Seria erro grave, se assim fosse, mas a situação é pior, bem pior, e roça a apostasia - descarada mas não admitida. Face ao estado a que chegámos, expoentes máximos de uma descristianização interna profunda, haja quem venha por os pontos nos "is" sobre Saramago. De Roma, diz assim o L' Osservatore Romano (notícia Público):

Um dia depois da morte do Nobel da Literatura de 1998, o diário da Santa Sé publica um obituário intitulado “A (presumível) omnipotência do narrador”, assinado por Claudio Toscani. “Foi um homem e um intelectual de nenhuma admissão metafísica, ancorado até ao final numa confiança arbitrária no materialismo histórico, aliás marxismo”, lê-se no artigo.

“Colocado lucidamente entre o joio no evangélico campo de trigo, declara-se sem sono pelo pensamento das cruzadas ou da Inquisição, esquecendo a memória do ‘gulag’, das purgas, dos genocídios, dos ‘samizdat’ culturais e religiosos”, acrescenta.

O texto passa em revista a produção literária do escritor português, qualificando o romance “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) de “obra irreverente” que constitui um “desafio à memória do cristianismo”.

“Relativamente à religião, atada como esteve sempre a sua mente por uma destabilizadora intenção de tornar banal o sagrado e por um materialismo libertário que quanto mais avançava nos anos mais se radicalizava, Saramago não se deixou nunca abandonar por uma incómoda simplicidade teológica”, escreve Toscani.

“Um populista extremista como ele, que tomou a seu cargo o porquê do mal do mundo, deveria ter abordado em primeiro lugar o problema das erróneas estruturas humanas, das histórico-políticas às socio-económicas, em vez de saltar para o plano metafísico”, acrescenta.

O artigo afirma que Saramago não devia ter “culpado, sobretudo demasiado comodamente e longe de qualquer outra consideração, um Deus no qual nunca acreditou, através da sua omnipotência, da sua omnisciência, da sua omniclarividência”.
 fonte:Tribuna