terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Cardeal Saraiva Martins comenta as últimas revelações sobre João Paulo II

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Purpurado explica algumas das questões levantadas pelo livro “Por que é santo”


Por Carmen Elena Villa

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org). – Muitos comentários foram suscitados pela publicação do livro do postulador da causa de canonização de João Paulo II, “Por que é santo”, (Rizzoli), especialmente no que diz respeito à penitência corporal.

Do volume escrito a quatro mãos pelo sacerdote polonês Slawomir Oder e pelo jornalista Saverio Gaeta, editor da revista “Famiglia Cristiana”, vêm à tona algumas revelações sobre a vida de Karol Wojtyla.

“Por que é santo” é dividido em três capítulos; “O homem”, que aborda seus traços mais humanos; “O Papa”, que, destaca os momentos mais importantes de seu pontificado; “O místico”, que analisa sua intensa vida espiritual e seu amor pela Eucaristia e pela Virgem Maria.

Diversos veículos de comunicação, ao comentarem o livro, concentraram-se fundamentalmente em três temas: o primeiro é a suposta flagelação de Wojtyła; o segundo é uma carta, escrita em 1994, na qual o Pontífice afirma que poderia ter renunciado à sua missão no caso de uma “enfermidade incurável” ou de um impedimento ao exercício de sua “função do ministério petrino”; e o terceiro, uma carta aberta endereçada ao homem que atentou contra sua vida em 1981, Ali Agca.

Para falar destes temas, ZENIT convidou o prefeito emérito da Congregação Vaticana para as Causas dos Santos, cardeal José Saraiva Martins, que estava presente também na cerimônia de lançamento do livro.

A flagelação

Em uma das últimas páginas do livro consta um parágrafo que indica, de acordo com testemunhas consultadas pelo postulador, que o Papa João Paulo II “se flagelava”, o que permanece uma hipótese, visto que ainda não foram encontradas testemunhas deste ato.

Alguns jornalistas afirmaram que a suposta flagelação poderia comprometer o processo de beatificação, enquanto outros chegaram a afirmar que tais rigorosas penitências seriam evidência de um “desequilíbrio mental”.

Diante de tais afirmações, o cardeal Saraiva explicou a ZENIT que a flagelação “nada mais é que a expressão mais bela do espírito cristão, da fé vivida por uma pessoa, que deseja se assemelhar a Cristo, que foi flagelado”.

Para alcançar a santidade se fazem necessárias tais práticas? O purpurado responde que o santo deve “flagelar-se espiritualmente”, isto é, ter sempre um espírito de penitência e sacrifício, sabendo ofertar sua dor física e espiritual.

“A santidade, é claro, pressupõe um grande heroísmo em vida, pressupõe muitas renúncias, uma força de vontade extraordinária para que se possa imitar a Cristo, vivendo a vida segundo os princípios do Evangelho. Pressupõe uma grande coragem. Exige uma preparação espiritual, para que se possa renunciar a tantas coisas”, explicou.

O cardeal sublinhou que os casos de santos que se submeteram voluntariamente a uma penitência rigorosa não têm nenhuma relação com qualquer desequilíbrio psicológico: “os santos são, acima de tudo, pessoas absolutamente normais, caso contrário não poderiam ter se tornado santos. Há muitos casos de santos que faziam penitências, é uma forma de dominar o próprio corpo”.

A renúncia e o perdão ao terrorista

Em um dos sub-títulos do capítulo “O Papa”, mons. Oder afirma que “na Igreja não há lugar para um Papa emérito”. Nesta seção do texto, lembra o que João Paulo II sempre repetia: que deixaria suas funções apenas se esta fosse a vontade de Deus.

“Não serei o responsável por colocar um fim a esta tarefa. O Senhor me trouxe aqui: deixo que Ele julgue e decida quando este serviço deva terminar”, dizia o Pontífice, de acordo com o texto.

O livro apresenta um carta até então inédita, escrita por João Paulo II em 1994, quando estava para completar 75 anos - idade na qual os bispos e cardeais devem apresentar sua renúncia – na qual considerava a possibilidade de renunciar ao seu mandato no caso de um impedimento extremo físico ou mental, mas sempre em sintonia com a vontade de Deus.

Sobre este assunto, o cardeal Saraiva diz que o livro não apresenta “nada de novo”. Segue apenas as conhecidas posições de João Paulo II, que afirmava não poder abandonar suas responsabilidades, a não ser no caso de ser acometido por uma “enfermidade incurável”, que o impedisse de levar adiante seu serviço; neste caso, o Papa poderia renunciar diante do Colégio Cardinalício.

Quanto à carta aberta destinada a Ali Agca, divulgada em 11 de setembro de 1981, o purpurado disse que o livro descreve “o que todos já sabemos. O Papa o perdoou, ainda que ele não tivesse pedido perdão”.

O que significa venerável?

O cardeal afirma que a publicação do livro não afeta o processo de beatificação do Pontífice, visto que em 19 de dezembro passado a Santa Sé publicou um decreto referente ao caráter heróico de suas virtudes. Desde então, João Paulo II recebeu o título de “venerável”.

“A Congregação para as Causas dos Santos, quando recebe a documentação de um candidato, inicia estudando o modo pelo qual este viveu as virtudes cristãs”, observou.

“Não uma santidade comum, mas verdadeiramente de caráter heróico. O heroísmo é aquilo que o distingue dos demais cristãos”. Desse modo, a única exigência que ainda precisa ser demonstrada para que João Paulo II se torne beato é a realização de um milagre operado por sua intercessão, que seja inexplicável pela ciência.

Imprudência do autor?

Em qualquer processo de beatificação, o trabalho do postulador consiste em reunir testemunhos e informações que provem a santidade do candidato. Neste processo, sua opinião pessoal não é considerada. Tudo é avaliado pela Congregação para as Causas dos Santos.

Sabendo que o postulador deve se manter neutro, não seria imprudência publicar um livro intitulado “Por que é santo” antes que o processo de beatificação seja concluído?

O prefeito emérito disse então que o postulador “pode dizer o que quiser”, a título de opinião pessoal, e que a publicação do livro não interfere no processo.

O título do livro, enfatiza, atende aos clamores do público, que logo após a morte de João Paulo II, foi às ruas portando cartazes quem diziam: “santo já”.

fonte:Zenit