DOM ANTÔNIO DE CASTRO MAYER
CARTA PASTORAL
CASTIDADE, HUMILDADE, PENITÊNCIA,
Características do cristão,
Alicerces da ordem social
15 de agosto de 1963
As raízes da crise progressista
A Igreja se prepara para a realização da segunda fase das assembléias gerais do II Concílio Ecumênico do Vaticano. De fato, uma das primeiras resoluções de S.S. o Papa Paulo VI, gloriosamente reinante, foi a de continuar o Concílio iniciado pelo seu venerando antecessor, de saudosa memória, João XXIII; e marcou, para reinício dos trabalhos, o dia 29 de setembro, XVII domingo depois de Pentecostes e festa de S. Miguel Arcanjo. Estamos, assim, em vésperas do prosseguimento do maior acontecimento deste século.
Com efeito, este Concílio deverá não só revigorar a unidade da Igreja, mediante resoluções que tornem a adesão aos dogmas da Fé mais plena, mais ardente, mais viva, com a conseqüente plenitude na prática da Moral cristã e integridade da disciplina eclesiástica, mas, além disso, e através disso, deverá ainda o Concílio procurar obter a unidade de todos os povos no redil do único pastor de almas, Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a direção de seu Vigário na terra, o Santo Padre, o Papa. Tarefa ingente e de importância singular na História.
De importância e gravidade. Porque, podemos facilmente perceber que este Concílio não pode deixar de atingir os nobres fins colimados pelo Papa que o convocou. O contrário acarretaria para a Igreja e a humanidade conseqüências imprevisíveis. Uma vez reunido, ou ele fortalece os vínculos da Fé, e torna mais viva a prática da caridade, de maneira a mostrar a Igreja na sua verdadeira face, como “signum levantum in nationes” (Conc. Vat. I, s. III, c. 3), que a todos os povos afirme a verdade e excelência da Revelação de Jesus Cristo; ou a decepção geral será tão grande, que seria difícil imaginar maior.
Podemos dizer que o futuro da humanidade e, em certa medida, da própria Igreja, depende deste Concílio Ecumênico.
Em tais circunstâncias, vedes bem, amados filhos, o peso da responsabilidade minha, de cada um de voz, caríssimos Padres seculares e regulares, de cada um de vós, queridas ovelhas, com relação ao Concílio Ecumênico. Incumbe-nos a todos, empenhar os meios que a Providência põe em nossas mãos, para dar ao Concílio a melhor e mais eficaz cooperação, a fim de que não seja culpa nossa uma eventual diminuição de graças divinas sobre os trabalhos e as resoluções conciliares.
Falando-vos, amados filhos, antes da primeira fase das assembléias gerais deste concílio, dizíamos-vos que o Concílio é obra da graça; que seus frutos dependem menos dos homens envolvidos nele, do que das luzes e forças do Espírito Santo, que infunde nos Padres conciliares a apetência das coisas retas e a prudência das conclusões mais eficazes e oportunas, para a glória de Deus, a exaltação da Santa Igreja e o bem das almas. Ora, dizíamos então, os auxílios do Espírito Paráclito condicionam-se, em grande parte, às nossas orações e boas obras.
Hoje, repetimos a mesma verdade. De maneira que o Concílio poderá ter fruto maior ou menor, de acordo com a intensidade e o valor dos gemidos que elevarmos até os paramos celestes, para implorar sobre os padres conciliares as luzes e as energias divinas.
É com intenção de preparar melhor Nossas queridas ovelhas, a grei que Nosso Senhor Nos confiou, que pretendemos entreter-Nos convosco, amados filhos, sobre o assunto da Encíclica “Poenitentiam agere”, publicada pelo Santo Padre João XXIII, em 1º de julho do ano findo, poucos meses antes de se abrir o II Concílio Ecumênico do Vaticano, para cuja feliz realização deveria concorrer.