domingo, 7 de fevereiro de 2010

Como todos sabem, a Missa é o ato mais augusto do culto católico, pois renova de modo incruento o Sacrifício do Calvário.

Tudo quanto toca na Missa toca, pois, no que a Religião tem de mais nobre, sensível e vital. O papa Paulo VI instituiu recentemente um "Ordo Missae", diferente em vários pontos muito importantes do "Ordo" anterior, decretado por São Pio V, no séc. XVI. Não espanta, pois, que a atenção de todos os teólogos se tenha fixado, desde logo, sobre o novo texto.

Ora, se em muitos ambientes este foi vivamente aplaudido, e em outros foi recebido com uma confiante despreocupação, dois cardeais — duas personalidades muito chegadas, pois, ao Papa — não trepidaram em escrever a Paulo VI uma carta em que manifestavam viva apreensão e fundas reservas quanto ao novo "Ordo". E, mais ainda, os dois purpurados julgaram dever comunicar ao público a carta que haviam enviado ao soberano Pontífice.

Não veja o leitor, neste episódio, um ato de contestação teatral, destes que se vão tornando banais na vida tragicamente conturbada da Igreja. Não é uma atroada à maneira do cardeal Suenens. Nem um ato de oposição, no estilo do cardeal Alfrink. Desta vez, os cardeais em causa são pessoas famosas exatamente por sua disciplina para com o Papado. Trata-se do célebre cardeal Ottaviani, secretário emérito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. E do grande latinista cardeal Bacci. É particularmente expressivo que, precisamente deles, tenha partido esse brado pesado, comedido e respeitoso — mas que nem por isto deixa de ser um brado — a respeito do novo texto da Missa.

Há tempos, as agências telegráficas publicaram algo sobre esta carta. Não dispondo aqui do espaço necessário para a transcrever. Menciono apenas que, segundo os dois cardeais, o novo "Ordo" apresenta a Missa, não como um sacrifício conforme à doutrina católica, mas como uma ceia. E isto — acentuam eles — se aproxima do conceito protestante. Creio não ser preciso dizer mais, para que o leitor se dê conta da gravidade do pronunciamento dos dois cardeais...

No "Courrier de Rome" (25-7), leio uma declaração que procedente de fonte diametralmente oposta, caminha para a conclusão a que chegaram os dois cardeais. Uma das mais célebres instituições protestantes da atualidade é o convento de Taizé, na França. Ora, em artigo publicado no diário católico parisiense "La Croix" o "irmão" Thurian, de Taizé, escreveu: "A reforma litúrgica deu um passo notável (com o "Ordo" novo) no campo do ecumenismo. Ela se acercou das próprias formas litúrgicas da Igreja luterana".

Tudo isto talvez explique o fato de que uma parte ponderável do Clero francês continue a celebrar a Missa no texto de São Pio V. Recebi de Paris a relação mimeografada, contendo a relação "incompleta" das igrejas em que se celebra a Missa "à antiga", com os respectivos horários. Trata-se nada menos de 19 igrejas e capelas em Paris, e 102 em 36 cidades de província.

* * *

Talvez espante ainda mais o leitor o fato de que, da catolicíssima Espanha, tenha partido uma atitude ainda mais impressionante. Na revista "Que Pasa?" de Madrid (n.º 315, de 10 deste mês), leio que a Associação de Sacerdotes e Religiosos de Santo Antônio Maria Claret — em cujas fileiras estão inscritos nada menos que 6 mil sacerdotes — enviou uma carta ao pe. A. Bugnini, secretário da Sagrada Congregação para o Culto Divino, reputado o autor do novo "Ordo", na qual lemos esta frase: "Nós, sacerdotes católicos, não podemos celebrar uma Missa da qual o sr. Thurian, de Taizé, declarou que poderia celebrá-la sem deixar de ser protestante. A heresia não pode jamais (nos) ser imposta por obediência". Assim, para essa prestigiosa Associação sacerdotal, não celebrar a Missa segundo o texto novo é um imperativo de consciência.

Para voltar à França, forneço aos leitores ainda uma notícia, aliás apenas colateral ao assunto. "La Pensée Catholique", editada em Paris pelo Abbé L. Lefevre, é um dos mais altos órgãos da cultura religiosa contemporânea. No no 122 (1969) dessa revista (pp. 53-54), leio que em não pequeno número de igrejas os padres progressistas fazem uma estrepitosa pressão moral para que todas, absolutamente todas as pessoas presentes comunguem. A sagrada hóstia é recebida na mão, e não mais na boca. Muitos dos presentes, não se sentindo em condições de comungar, levam as hóstias de volta para seus lugares. E ali as deixam. De sorte que, terminada a Missa, se encontram hóstias atiradas nos bancos, ou até rolando pelo chão. Isto já não é raro em certas igrejas.

A hóstia é o próprio corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo...

FONTE:http://www.pliniocorreadeoliveira.info/FSP%2070-01-25%20O%20direito.htm