domingo, 4 de julho de 2010

Declarações do Cardeal Stickler sobre a Missa de S. Pio V

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Declarações do Cardeal Stickler sobre a Missa de S. Pio V

Prefeito emérito dos Arquivos do Vaticano
(revista The Latin Mass, 1995)

"O Papa João Paulo II fez duas perguntas, em 1986, a uma comissão de nove cardeais.

Primeira pergunta: "O Papa Paulo VI ou qualquer outra autoridade competente até o presente momento proibiram legalmente a livre celebração da Missa tridentina?"

"A resposta dada por oito destes cardeais em 1986 foi que não, a Missa de São Pio V jamais foi suspensa. Posso afirmá-lo: eu era um destes cardeais. Um somente foi de parecer contrário. Todos os outros estavam a favor de uma livre permissão: que cada qual possa escolher a antiga Missa.

Houve uma outra pergunta muito interessante: Será que um bispo pode impedir qualquer sacerdote que seja, desde que em situação regular, de recomeçar a celebrar a Missa tridentina? Os nove cardeais responderam unanimemente que um bispo não podia impedir um sacerdote católico de celebrar a Missa Tridentina. Nós não temos uma proibição oficial e eu penso que o Papa jamais pronunciaria uma proibição oficial."



O mesmo Cardeal no Congresso de Christi Fideles, Nova York, maio de 1995

"A Missa nova deveria chamar-se "missa da comissão litúrgica pós-conciliar":

"Pela constituição do Vaticano II sobre a liturgia é evidente que a vontade do Concílio e a vontade da comissão litúrgica muitas vezes não coincidem, e até se opõem de maneira clara.

A missa de Paulo VI ... põe antes em evidência o aspecto geral da missa, a saber a Comunhão; o que resulta em transformar o Sacrifício naquilo que é permitido chamar um banquete.

O lugar importante dado às leituras e à pregação na nova missa, a possibilidade mesma deixada ao padre de acrescentar explicações e palavras pessoais é uma reflexão a mais sobre o que é legítimo chamar de uma adaptação à idéia protestante de culto..."



"A recente mudança na localização do altar, bem como a posição do padre de frente para a assembléia - proibidas antigamente - tornam-se hoje o sinal de uma missa concebida como reunião da comunidade."

"Santo Tomás de Aquino consagra todo um artigo para justificar o "mysterium fidei". E o Concílio de Florença confirma explicitamente o "Mysterium fidei" na fórmula da Consagração. Em nossos dias, o "mysterium fidei" foi eliminado das palavras da Consagração na nova liturgia. Por que então?

Foi concedida igualmente a licença de dizer outros cânones. O Segundo Cânon - que não menciona o carácter sacrifical da missa - tem, não há dúvida, o mérito de ser o mais curto, mas, de fato, suplantou por toda a parte o Cânon romano.



Foi assim que nós perdemos o profundo sentido teológico dado pelo Concílio de Trento."

"Por essas mesmas razões, o cânon 9 do Concílio (de Trento) estabelece a excomunhão para aqueles que afirmam que o rito da Igreja Romana no qual parte do Cânon e as palavras da Consagração são pronunciadas em voz baixa, deve ser condenado."

"O emprego do vernáculo acarretou sérias incompreensões e erros doutrinais, ele produziu a "desunião": Esta Babel de cultos públicos tem por resultado a perda da unidade externa no seio da Igreja Católica (...). Devemos admitir que, em poucos decénios, depois da reforma da língua litúrgica, nós perdemos esta oportunidade de rezar e de cantar juntos".

"Em terceiro lugar, a reforma que se seguiu ao Vaticano II destruiu ou transformou a riqueza de numerosos símbolos litúrgicos".



"Para resumir nossas reflexões, podemos dizer que os benefícios teológicos da missa tridentina correspondem às deficiências teológicas da missa saída do Vaticano II."

(conf. revista "Iota Unum" n. 312, 21/10/1995, Paris).

Para citar este texto:

"Declarações do Cardeal Stickler sobre a Missa de S. Pio V"
MONTFORT Associação Cultural

O CRUZADO DO SÉCULO XX-PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA


Roberto de Mattei

O cruzado do século XX – Plinio Corrêa de Oliveira

Tradução do original italiano: Leo Daniele

Revisão e projecto gráfico: António Carlos de Azeredo

Livraria Civilização Editora, Porto, 1997

PREFÁCIO

do Cardeal Alfons M. Stickler S.D.B. *



Nos períodos de crise e de confusão que a História frequentemente registra, as biografias dos homens eminentes podem às vezes, mais do que os abstractos volumes de moral ou de filosofia, indicar o recto caminho.

Com efeito, os princípios devem ser vividos em concreto e quanto mais as condições dos tempos são hostis à encarnação histórica dos valores perenes, tanto mais se torna necessário conhecer a vida de quem colocou tais valores no centro da própria existência.

Isto sucedeu, no nosso século, com Plínio Corrêa de Oliveira, o grande pensador e homem de acção brasileiro do qual o Prof. Roberto de Mattei, com a competência que lhe é própria, compôs a primeira biografia na Europa a um ano da morte daquele, ocorrida em São Paulo, a 3 de Outubro de 1995.

Com a coerência da sua vida de autêntico católico, Plínio Corrêa de Oliveira confirma-nos a fecundidade da Igreja. De facto, para os verdadeiros católicos, as dificuldades dos tempos constituem ocasiões em que eles se destacam na História, para nela afirmar a perenidade dos princípios cristãos. Foi o que fez o eminente pensador brasileiro, mantendo alta, na era dos totalitarismos de todas as cores e expressões, a sua fidelidade inamovível ao Magistério e às instituições da Igreja. Ao lado da sua fidelidade ao Papado, apraz-me recordar um traço característico da sua espiritualidade que se manifestou na devoção a Maria Auxiliadora, a Nossa Senhora do Rosário e da vitória de Lepanto, por ele venerada na Igreja salesiana do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo.

Lembro-me ainda com satisfação de ter estado entre os apresentadores na Itália da obra magistral de Plínio Corrêa de Oliveira, "Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII", que na minha opinião constitui, ao lado de "Revolução e Contra-Revolução", um dos frutos mais altos do pensamento deste ilustre brasileiro.

Congratulo-me por fim com o autor desta obra, Prof. Roberto de Mattei, ao qual me ligam sentimentos de amizade e de consonância de ideais, pela mestria com que conseguiu apresentar-nos a figura e obra de Plínio Corrêa de Oliveira, de quem se mostra digno discípulo na Europa.

Todos os fundadores e personalidades de relevo na história da Igreja sofreram incompreensões e calúnias. Não admira, pois, que também Plínio Corrêa de Oliveira tenha sido objecto, e possa continuar a sê-lo no futuro, de campanhas difamatórias, alimentadas habilmente por aqueles que se opõem ao seu ideal de recristianização da sociedade. Tais campanhas caluniosas também atingiram, no nosso século, muitas outras associações católicas, contra as quais se quis lançar a pecha demoníaca de "seitas". É interessante notar que tais campanhas se tornam tanto mais agressivas quanto maior é a fidelidade católica das associações atingidas. Isso demonstra que o verdadeiro alvo das acusações é a Igreja, à qual se pretende negar o papel de "Mestra da Verdade" recentemente reafirmado pelo Santo Padre João Paulo II na encíclica Veritatis Splendor. É lamentável que a essas campanhas injuriosas, promovidas pelos inimigos da Igreja, se prestem por vezes católicos que se pretendem ortodoxos.

Faço votos de que esta biografia de Plínio Corrêa de Oliveira dissipe críticas e incompreensões e constitua um ponto de referência ideal para todos aqueles que, com generosidade, querem dedicar as próprias energias ao serviço da Igreja e da Civilização Cristã.

Tal obra de serviço à Igreja não requer apenas rectidão doutrinal, mas também vida interior e um especial espírito de penitência e de sacrifício, proporcionado à gravidade da hora presente.

Com a sua vida e obra, Plínio Corrêa de Oliveira dá-nos claro exemplo disso.

Asseguro as minhas orações e a minha bênção para todos aqueles que se farão imitadores e propagadores desse espírito e dessa visão autenticamente católica do mundo.



Alfons Maria Card. Stickler

Roma, 2 de Julho de 1996

Festa da Visitação de Nossa Senhora

* O Cardeal Alfons Maria Stickler, salesiano, nasceu em Neunkirchen (Áustria) em 1910. A sua particular vocação para o estudo das ciências jurídicas conduziu-o ao magistério no Pontifício Ateneu Salesiano, do qual foi, de início, Decano da Faculdade de Direito Canónico e, posteriormente, Reitor de 1958 a 1966. Pondo ao serviço da Santa Sé os seus elevados dotes académicos, após ter dirigido o Instituto de Altas Ciências Latinas foi nomeado Prefeito da Biblioteca Vaticana. Em 1983, João Paulo II elevou-o à dignidade episcopal e em seguida, ao nomeá-lo Cardeal com o título diaconal de São Jorge em Velabro, fê-lo Bibliotecário e Arquivista da Santa Igreja. É autor de importantes estudos teológicos e canónicos traduzidos em numerosas línguas.