quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Eucaristia e a liturgia para o novo Prefeito da Congregação para os Bispos:“Depois do Concílio Vaticano II houve um movimento progressista litúrgico muito exagerado, que fez com que desaparecessem os tesouros da tradição como, por exemplo, o canto gregoriano. Tesouros que deveriam ser recuperados. Mas, como afirma o cardeal Joseph Ratzinger, deve ser recuperado principalmente o sentido sagrado da liturgia, a percepção de que a liturgia não é uma coisa nossa que nós fabricamos, que podemos recompor segundo os nossos gostos passageiros, mas é algo que se recebe, que nos é doado. Portanto as objetividades das reformas litúrgicas têm a sua importância. Creio que as chamadas do cardeal Ratzinger sejam muito importantes. Penso que o Concílio Vaticano II tenha feito uma boa constituição sobre a sagrada liturgia, a Sacrosanctum Concilium. Mas a atuação da reforma litúrgica não foi – sempre – à altura. Seria preciso voltar à essênciada Sacrosanctum Concilium”.

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Saiu em 30 de Junho passado a nomeação do Eminentíssimo Cardeal Marc Ouellet, PSS, Arcebispo de Quebec e Primaz do Canadá, para suceder o Cardeal Giovanni Battista Re na prefeitura da Congregação encarregada dos Sucessores dos Apóstolos.
Mas o que pensa o homem encarregado de auxiliar o Papa na escolha dos Bispos sobre a Liturgia e a Eucaristia?

Alegrei-me ao ver as declarações do Purpurado sobre Liturgia.

O Cardeal Ouellet possui um pensamento abalizado a respeito de Liturgia, com a seriedade suficiente para reconhecer as deficiências da Reforma Litúrgica e a necessidade de recuperar-se o que foi perdido. Bastante adequado, pois, para auxiliar o Santo Padre em sua cruzada pela restauração da sacralidade da Liturgia e da redescoberta de seu valor; e isto num ponto nevrálgico: os Bispos, guardiães da Liturgia.

Em entrevista à 30 Dias, Ouellet reconhece que desde a época de sua ordenação, na década de 60, “o canto e a liturgia [...] passava[m] por um momento particularmente caótico”.

São palavras suas:
Depois do Concílio Vaticano II houve um movimento progressista litúrgico muito exagerado, que fez com que desaparecessem os tesouros da tradição como, por exemplo, o canto gregoriano. Tesouros que deveriam ser recuperados. Mas, como afirma o cardeal Joseph Ratzinger, deve ser recuperado principalmente o sentido sagrado da liturgia, a percepção de que a liturgia não é uma coisa nossa que nós fabricamos, que podemos recompor segundo os nossos gostos passageiros, mas é algo que se recebe, que nos é doado. Portanto as objetividades das reformas litúrgicas têm a sua importância. Creio que as chamadas do cardeal Ratzinger sejam muito importantes. Penso que o Concílio Vaticano II tenha feito uma boa constituição sobre a sagrada liturgia, a Sacrosanctum Concilium. Mas a atuação da reforma litúrgica não foi – sempre – à altura. Seria preciso voltar à essênciada Sacrosanctum Concilium”.
É opinião do Cardeal, pois, que a Sacrosanctum Concilium não foi corretamente seguida pela Comissão que reformou a Liturgia. Esta, aliás, era a opinião também de Ratzinger, desde sua época de padre, e de renomados liturgistas e teólogos: Gagnon, Gamber, Ottavianni...

Ouellet não foge à linha e admite: há problemas na Reforma Litúrgica.

As soluções?

Estas que o Santo Padre vem empregando: o resgate das tradições litúrgicas genuinamente católicas, dos símbolos, da beleza do culto e, o que é mais importante, da sacralidade e do sentido da Liturgia.

E em sua atuação como Arcebispo, Sua Eminência deu vapor a esse projeto, sempre em consonância com o Santo Padre.

Para “recuperar os tesouros”, como fala a 30 Dias, em 2009 o Cardeal Ouellet doou à Fraternidade São Pedro uma Igreja onde seria celebrada a Santa Missa todos os dias, exclusivamente segundo o usus antiquior. Trata-se da Igreja de St-Zéphirin-de-Stadacona, da Paróquia de Notre-Dame-de-Roc-Amadour, confiada ao Pe. Guillaume Loddé, FSSP.

Da lamentação pela perda do canto gregoriano, surge o impulso para que se notabilizasse em Quebec pelo seu apoio ao canto gregoriano como canto litúrgico próprio da Santa Missa, segundo The New Liturgical Movement.

E nas celebrações do Congresso Eucarístico Internacional de Quebec, em 2008, a Liturgia não deixou nada a desejar, com toda a pompa e sacralidade devidas ao Sacro Culto de Nosso Senhor.
Interessante é a sua atuação quando o Santo Padre enfrentava duras críticas por ter remitido a excomunhão dos Bispos da Fraternidade São Pio X. O Cardeal Ouellet foi responsável por uma defesa vigorosa de Sua Santidade:
Em todos os níveis de condução da Igreja, a unidade com Pedro e a solidariedade com ele não tiveram bons resultados este ano. [...] Já é tempo de atuar e de tomar partido com nosso santo Padre, quem é admiravelmente tranqüilo e coerente no cumprimento de todas suas tarefas. É uma grande bênção para nós a qualidade de seu ensinamento. [...] Estamos com Pedro, em solidariedade com nosso Bispos e sacerdotes. [...] Ponhamo-nos ao lado do Sucessor de Pedro, nosso Papa, neste tempo de desafios, aceitando com coragem nossa tarefa de construir em todas as partes a unidade e a solidariedade”, disse, numa conferência, diante de 90 Bispos, 8 Cardeais e 1000 Cavaleiros de Colombo, num momento em que boa parte da Igreja e mesmo do Clero deu as costas ao Santo Padre.
Mas a “recuperação dos tesouros perdidos” não termina. O Cardeal Ouellet, segundo suas próprias palavras, crê que o principal é recuperar “o sentido sagrado da liturgia, a percepção de que a liturgia não é uma coisa nossa que nós fabricamos, que podemos recompor segundo os nossos gostos passageiros”. O trecho, por si só, já é de dar calafrios em qualquer modernista litúrgico ou laboratorista de culto.

Mas possui um sentido especial para Ouellet, que, em termos de significado da Liturgia, está completamente alinhado com o ensino magisterial da Igreja a respeito da Eucaristia, especialmente com a recente Encíclica Ecclesia de Eucharistia, do Papa João Paulo II, e a Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, de Bento XVI.
Este dom por excelência foi longamente preparado por Deus na história da salvação. A sagrada eucaristia recapitula e coroa com efeito, uma multidão de dons de Deus feitos à humanidade depois da criação do mundo. Ela leva à sua realização o desígnio de Deus de estabelecer uma aliança definitiva com a humanidade. [...] Ela é um memorial vivo do dom que Jesus Cristo fez do seu corpo e do seu sangue para resgatar a humanidade do pecado e da morte e comunicar-lhe a vida eterna” (I, A).
Para se dar ao mundo neste mistério da aliança, Deus conta com a Igreja, sua humilde ‘esposa’. Mesmo pobre e frágil por causa dos pecados de seus filhos, a Igreja compromete-se pela penitência e pela sagrada eucaristia, na renovação constante da graça do seu batismo. [...] ‘É grande este mistério’, exclama o apóstolo Paulo, pensando na união de Cristo e da Igreja, como modelo e o mistério do casamento sacramental (Ef 5,32) S. Ambrósio vê na eucaristia “a prenda nupcial” de Cristo à sua Esposa e na comunhão o beijo de Amor. E Cabasilas pode justamente observar: “ ‘Este mistério é grande’, diz o bem-aventurado Paulo para exaltar esta união. Porque é então o matrimónio tão exaltado quando o Esposo puríssimo desposa a Igreja como virgem. É aqui que Cristo “alimenta” o coro daqueles que o rodeiam, e é por este único sacramento que “nós somos carne da sua carne e ossos dos seus ossos” (Cabasilas, La vie en Christ, IV, 30, trad. M.H.Congourdeau, S.C. n.355, Paris, 1989, p.291). A eucaristia lança-nos na oferenda de Jesus. Não receberemos somente o Logos incarnado de maneira estática, mas somos envolvidos na dinâmica da sua oferenda” (II, A, c).
O dom de Deus no banquete do amor, leva o compromisso da Igreja partilhar esse dom com a humanidade inteira, que é chamada a tornar-se Corpo e esposa de Cristo. A primeira homenagem da Igreja a este mistério é o de uma fé plena, admirativa e adoradora. Porque, ao mistério do dom eucarístico por excelência do mesmo Deus, deve corresponder o mistério de fé por excelência como adesão total e plena de gratidão da Igreja, unida à fé imaculada de Maria. A missão do Espírito Santo é justamente assegurar esta correspondência nupcial entre a atualização perpétua do mistério eucarístico e o acolhimento da Igreja que alimenta assim a esperança do mundo pelo seu testemunho” (II, B, a).
A celebração eucarística torna presente Cristo no ato de adoração por excelência que é a sua morte sobre a cruz. Pelo seu ato de amor absoluto até à morte, Cristo volta para o Pai com a humanidade reconciliada e obtém para todos o Espírito de amor e de paz que anima a adoração da Igreja em espírito e verdade. Por ele, com ele e nele, é toda a Igreja que é adoradora, em nome da humanidade resgatada. O ato de adoração por excelência de Cristo e da Igreja realiza-se na oferenda do santo sacrifício in Persona Christi, Caput et Corpus, como diz S. Agostinho” (III, B).
Que Sua Eminência, pois, com a graça de Deus, possa desempenhar bem sua nova função, auxiliando o Santo Padre na escolha de Bispos alinhados com seu Magistério e com sua cruzada pela restauração da Sagrada Liturgia!
fonte:salvem a liturgia