“A Igreja não é um sanatório”. Além da misericórdia, existe muito mais.
Por Matteo Matzuzzi – Il Foglio | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: “Santo Tomás de Aquino afirmou que a misericórdia é precisamente o cumprimento da justiça, porque através dela Deus justifica e renova a criação do homem. Portanto, não deverá ser jamais uma desculpa pra suspender ou tornar inválidos os mandamentos e os sacramentos. Caso contrário, estaremos na presença da pesada manipulação da autêntica misericórdia e, portanto, também de frente à vã tentativa de justificar nossa indiferença tanto em relação a Deus como aos homens”. É assim que deve ser entendida a misericórdia, de acordo com o cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito da congregação para a Doutrina da fé. Tendo em vista o próximo sínodo sobre a família, o purpurado alemão expôs sua reflexão em um longo diálogo com Carlos Granados, diretor das edições espanholas Bac, já disponível nas livrarias em um pequeno volume intitulado “La speranza della família” (Edizioni Ares). Da misericórdia se tem falado em abundância depois do discurso consistorial do cardeal Walter Kasper, que invocou a misericórdia para os divorciados recasados que desejam se aproximar novamente da eucaristia, alegando que “através da penitência qualquer um pode receber clemência e todo pecado ser absolvido”, cada ferida poderia ser curada no “hospital de campanha”, segundo a entrevista de Francisco na revista Civiltà Cattolica – “A imagem do hospital de campanha é muito bonita”, disse Müller, mas “não podemos manipular o Papa reduzindo a esta imagem toda a realidade da Igreja. A Igreja não é um sanatório: a Igreja é também a casa do Pai”.
Por Matteo Matzuzzi – Il Foglio | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: “Santo Tomás de Aquino afirmou que a misericórdia é precisamente o cumprimento da justiça, porque através dela Deus justifica e renova a criação do homem. Portanto, não deverá ser jamais uma desculpa pra suspender ou tornar inválidos os mandamentos e os sacramentos. Caso contrário, estaremos na presença da pesada manipulação da autêntica misericórdia e, portanto, também de frente à vã tentativa de justificar nossa indiferença tanto em relação a Deus como aos homens”. É assim que deve ser entendida a misericórdia, de acordo com o cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito da congregação para a Doutrina da fé. Tendo em vista o próximo sínodo sobre a família, o purpurado alemão expôs sua reflexão em um longo diálogo com Carlos Granados, diretor das edições espanholas Bac, já disponível nas livrarias em um pequeno volume intitulado “La speranza della família” (Edizioni Ares). Da misericórdia se tem falado em abundância depois do discurso consistorial do cardeal Walter Kasper, que invocou a misericórdia para os divorciados recasados que desejam se aproximar novamente da eucaristia, alegando que “através da penitência qualquer um pode receber clemência e todo pecado ser absolvido”, cada ferida poderia ser curada no “hospital de campanha”, segundo a entrevista de Francisco na revista Civiltà Cattolica – “A imagem do hospital de campanha é muito bonita”, disse Müller, mas “não podemos manipular o Papa reduzindo a esta imagem toda a realidade da Igreja. A Igreja não é um sanatório: a Igreja é também a casa do Pai”.
É verdade, assegura o guardião da ortodoxia católica, que “Deus perdoa até um pecado grave como o adultério, todavia não permite um outro casamento que colocaria em dúvida um matrimônio sacramental ainda existente, um matrimônio que expressa a fidelidade de Deus. Fazer um similar apelo a uma presumida misericórdia de Deus equivale a um jogo de palavras que não ajuda a esclarecer os termos do problema. Na realidade – acrescenta o chefe do antigo Santo Ofício em uma das frases escapadas da longa antecipação publicada na revista Avvenire – me parece que esse é um modo de não perceber a profundidade da misericórdia divina”. Visões diametralmente opostas, portanto, que levam Müller a dizer-se surpreso com o empenho “da parte de alguns teólogos que possuem o mesmo entendimento sobre a misericórdia como um pretexto para admitir aos sacramentos os divorciados casados novamente segundo a lei civil”. O princípio da misericórdia, observa ainda, “é muito fraco quando se transforma em um único argumento teológico-sacramental válido. Toda a ordem sacramental é precisamente obra da misericórdia divina e não pode ser anulada revogando o mesmo princípio que a rege. Do contrário, uma referência errada à misericórdia contém o grave risco de banalizar a imagem de Deus, segundo a qual Deus não seria livre, mas sim obrigado a perdoar”. É verdade, enfatiza o prefeito, que Deus não se cansa nunca de perdoar e de oferecer a sua misericórdia, o problema é que somos nós que nos cansamos de suplicá-la”. E depois, “além da misericórdia, também a santidade e a justiça pertencem ao mistério de Deus. Se ocultássemos esses atributos divinos e se banalizássemos a realidade do pecado, não haveria sentido algum em implorar para as pessoas a misericórdia de Deus”.
O cardeal Müller toca ainda em outro ponto delicado que é o grande desafio entre doutrina e vida, também no que diz respeito aos pedidos de adaptação do ensinamento católico em assuntos de moral sexual à realidade pastoral. “Trata-se de um mal entendimento, como se a doutrina fosse um sistema teórico reservado a alguns especialistas de teologia. Não, a doutrina, além da palavra de Deus, nos dá a vida e a mais autêntica verdade da vida. Não podemos confessar de modo doutrinal que ‘Cristo é o Senhor’ e depois não cumprir a Sua vontade”. Busca-se, em suma, “transformar a doutrina católica numa espécie de museu das teorias cristãs: uma espécie de reserva que interessaria apenas a alguns especialistas” e “ o severo cristianismo estaria se convertendo em uma nova religião civil, politicamente correta, reduzida a alguns valores tolerados pelo resto da sociedade. De tal modo, se obteria o objetivo inconfessável de alguns: marginalizar a Palavra de Deus para poder dirigir ideologicamente toda a sociedade”. Jesus, explica o purpurado, “não se encarnou para expor algumas simples teorias que tranqüilizam a consciência, deixando tudo, até o que tem fundo lascivo, como está, sem alterar a ordem constituída”. Em suma, não se pode, “ir à igreja pela manhã e à tarde ao bordel, como uma espécie de síntese esquizofrênica entre Deus e o mundo, como se fosse possível viver na casa de Deus pela manhã e na casa do diabo à noite.”