Por FratresInUnum.com – 12 de setembro de 2017
“Nós não compartilhamos em absoluto aquela posição de quantos consideram que a Sede de Pedro está vacante”. Foram estas as marcantes palavras do arcebispo emérito de Bolonha, há sete dias falecido, o Cardeal Carlo Caffarra, em sua última carta pública ao Papa Francisco, carta em que pedia uma audiência, audiência que foi negada.
A frase é, em si mesma, muito misteriosa, considerando-se o fato de que Caffarra foi um dos eleitores do último conclave. Como assim? Existe alguém que tenha participado daquele conclave e que cogita a possibilidade de uma eleição ilegítima? Intrigante!
Sua carta revela a lealdade de quem fala com clareza ao seu superior, sem bajulações descabidas nem desrespeitos levianos.
Contudo, não deixa de causar espanto que, em apenas dois meses, dois dos quatro signatários dos dubia tenham morrido.
Aqui, obviamente, não queremos conjecturar nenhuma hipótese criminal, tal como o envenenamento ou outro tipo de homicídio discreto. Afinal de contas, esses usos deixaram de ser adotados, digamos, há algumas décadas, excetuando-se, talvez, o caso de João Paulo I. A propósito, diz-se que, quando tornou-se emérito, o Cardeal Medina transferiu-se imediatamente para o Chile, alegando que se sentia mais seguro lá que em Roma. Mas, enfim, são métodos ultrapassados!
Também não queremos apelar ao argumento ad macumbam, ainda que o recurso à feitiçaria fosse bastante recorrente por parte de certos hierarcas da antiguidade, sobretudo durante do Renascimento. Mesmo que o diabo ande às soltas, esse tipo de premissa preternatural não seria tão facilmente demonstrável.
Preferimos pensar tratar-se de desgosto, mesmo! Como dizem os italianos, o velho crepacuore. Desgosto por ter dado a vida inteira pela defesa da santidade do matrimônio e da sacralidade da vida e ver estas duas colunas sendo continuamente profanadas durante o pontificado atual, desgosto por ver a doutrina moral católica totalmente refém do relativismo de um magistério dialético, tão monstruoso como um dragão de sete cabeças, desgosto por ser desprezado na idade anciã, justo por um papa que considera que um dos piores males dos tempos atuais é o abandono dos idosos.
A morte do Cardeal Caffarra silencia a voz de um confessor da fé, talvez do principal dentre os quatro que se levantaram para, com toda a franqueza e abertura que Francisco vive protestando dever existir na Igreja, apresentar-lhe a perplexidade de fieis católicos do mundo inteiro que se sentem desorientados com a atual confusão. Por isso, é natural que alguém se pergunte se o seu falecimento não significaria o fim dos dubiae a completa derrota da posição católica.
Nossa opinião é um estrondoso “não!”, pois, embora a púrpura cardinalícia tenha alguma força, mais forte que ela é o poder da verdade, poder que constrangeu Francisco ao silêncio!
Francisco não pode responder aos cinco dubia. Ele não passa pela prova evangélica do “sim, sim; não, não”. Ele renunciou conscientemente à nitidez da verdade e aderiu, também conscientemente, aos tons de cinza do antagonismo doutrinal.
Esse pontificado acabou. Francisco renunciou tacitamente a ser magister, mestre da Igreja Católica. Seu compromisso não é com suas ovelhas, Ele “não pensa como Deus, mas como os homens”. Não à toa, o Cardeal Müller afirmou que no Vaticano “hoje, a diplomacia e as questões de poder têm prioridade” em relação à verdade.
O silêncio de Francisco é a vitória dos quatro cardeais. Podem todos morrer, mas a eloquência do silêncio de suas vozes jamais sobrepujará o ensurdecedor grito do silêncio de Francisco.
“Nós não compartilhamos em absoluto aquela posição de quantos consideram que a Sede de Pedro está vacante”, dizia o Cardeal Caffarra. De fato, há alguém ali sentado: Francisco não renunciou ao seu ofício, mas renunciou exercê-lo.
Caffara, embora morto, vive. Francisco, embora vivo, escolheu morrer!