Fotos da Missa Tridentina da Vigília de Natal na Paróquia de S.Vicente de Paulo, em Toronto no Canadá
Liturgia, segundo Mons. Bux
Sua apresentação em Bari, na Itália, foi assunto da edição de hoje do L’Osservatore Romano. Eis alguns excertos:
“Está nascendo um novo movimento litúrgico que mira as liturgias de Bento XVI; não bastam as instruções preparadas pelos peritos, desejamos liturgias exemplares que nos façam encontrar Deus. (...) O método escolhido pelo Papa para a renovação da vida litúrgica é o de oferecer como modelo exemplar as liturgias que celebra.
Impressiona-me que alguns se esquivam dizendo que aguardam as determinações do Papa. Temos assistido ao modus celebrandi do Santo Padre, basta imitá-lo sem esperar ulteriores instruções. Todas as escolhas do Papa são motivadas por uma teologia litúrgica de fundo, e não saudosismo, formalismo ou esteticismo.
A liturgia como lugar do encontro com o Deus vivo, não um show para tornar a religião interessante, não um museu de formas rituais grandiosas. (...) Missas-show são televisionadas e copiadas em nossas paróquias, em flagrante desrespeito às leis litúrgicas. Mons. Bux também não poupa os que se apegam apenas à exterioridade dos rituais, absolutizando-os.
A liturgia cristã, como o próprio acontecimento cristão, não é feita por nós (Faltou combinar com as comissões litúrgicas nacionais, diocesanas e paroquiais; vá convencer os padres). Um termo como actualização forjou a ideia que nós tivéssemos a capacidade de replicá-la, criar as condições justas para que pudesse ocorrer, de organizá-la, quase como se fôssemos criadores daquilo que afirmamos crer. Na realidade é Jesus Cristo que faz a sagrada liturgia com o Espírito Santo.
Bux
A nós cabe seguir, dar espaço à sua acção. O método à disposição de todos é contemplar o que acontece – se costumava dizer “assistir”, isto é, ad stare – estar diante de sua presença; significa aderir a Algo que vem antes, seguir aquilo que ele realiza em meio a nós, capaz sempre de reverter num segundo a ideia de que o culto seja feito por nós. A liturgia é sagrada e divina porque é uma Coisa que vem do outro mundo.
Obviamente que este dom divino chegou a nós pela mediação da Igreja. Cabe a ela custodiar este precioso depósito de fé e de oração, e como ensina a Instrução Redemptionis Sacramentum 10: "A mesma Igreja não tem nenhum poderio sobre aquilo que tem sido estabelecido por Cristo, e que constitui a parte imutável da liturgia".
Quanto às formas passíveis de mudança, cabe igualmente a Igreja escolher aquelas que mais bem transmitem a ortodoxia da Fé e que já foram provadas pelos séculos e continuam a dar frutos.
Bux
Está aberta aos elementos que podem contribuir para seu enriquecimento e pronta a eliminar o que já se tornou obsoleto. Dada a natureza sagrada da Liturgia, sua relação intrínseca com a Lex Orandi e a necessária integridade dos Ritos, decisões neste âmbito cabem ao Sumo Pontífice. O Papa Bento já deixou claro não ser adepto de mudanças frequentes, mesmo quando nitidamente positivas, para não dar a idéia de que a liturgia seja algo em constante reformulação.
Desejamos ajudar a compreender e a celebrar dignamente a liturgia como possibilidade de encontro com a realidade de Deus e causa da moralidade do homem, a enxergar nas degradações sintoma de vazio espiritual indicando o caminho para restaurar-lhe o espírito no signo da unidade da fé apostólica e católica, a promover um debate sério e um caminho educativo seguindo o pensamento e o exemplo do Papa que permita retomar o movimento litúrgico.
É mister olhar para o espírito da liturgia como adoração de Deus Pai por Jesus Cristo no Espírito Santo e como pedagogia para entrar no mistério e de ser transformados em moralidade e santidade.”
Andrea Tornielli, publicou no Il Giornale, uma recensão ao novo livro de Mons. Nicola Bux, “La riforma di Benedetto XVI. La Liturgia fra innovazione e tradizione”, ainda não publicado em português .
Mons. Bux é consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, da Congregação para as Causas dos Santos, do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, professor de Liturgia Comparada, vice-presidente do Instituto Ecumênico de Bari e consultor da revista teológica internacional «Communio».
“A reforma de Bento XVI”, por ANDREA TORNIELLI
Não é sempre fácil compreender, na selva das declarações polêmicas e das simplificações jornalísticas, qual seja a verdadeira mensagem que Bento XVI, com o seu exemplo antes mesmo que com sua palavra, pretende dar à Igreja no que concerne à celebração litúrgica. O retorno da cruz ao centro do altar, a recuparação de antigos paramentos e sobretudo a promulgação do motu proprio que em 2007 liberou o rito pré-conciliar estão no centro de debates e discussões, frequentemente polarizados em campos opostos e não isentos de tonalidades extremistas.
Bux
Por tudo isso é ocasião de receber como uma boa notícia a publicação do livro de Mons. Nicola Bux, “La riforma de Benedetto XVI (Pieme, pp 128, 12 euros, nas livrarias desde quarta-feira), um volume ágil e ao mesmo tempo denso e documentado, prefaciado por Vittorio Messori.
Um livro que ajuda a “ler” os actos e iniciativas litúrgicas do pontificado ratzingeriano reportando-os ao seu significado mais profundo, sem o qual corre-se o risco de julgá-los como exterioridade nostálgica de uma parte, ou como vinganças restauradores de outra.
Bux, teólogo estimado pelo próprio Pontífice, perito em teologia e liturgia orientais, explica que “a natureza da sagrada liturgia é ser o tempo e o lugar em que seguramente Deus vai ao encontro do homem”, não “alguma coisa a ser construída por nós, algo de inventado para produzir uma experiência religiosa”, sendo ainda “o cantar com o coro das criaturas e o entrar na própria realidade cósmica”.
Bux
Foi por perder de vista o seu profundo significado que deformou o movimento litúrgico pós-conciliar, “seja por obra de quem considerava sempre a novidade como a coisa melhor, seja por obra de quem desejava restaurar as coisas antigas como óptimas em todas as ocasiões”.
A decisão do Papa de restituir plena cidadania à forma antiga do rito romano, explicando ao mesmo tempo que os dois missais não pertencem a dois ritos diversos, “é uma resposta a quantos, tradicionalistas e inovadores, haviam afirmado que o antigo rito romano tivesse morrido por ocasião da reforma litúrgica e um outro tivesse nascido em total descontinuidade: uma verdadeira e própria ruptura!”.
Bux recorda que o Papa, na carta enviada aos bispos como acompanhamento do motu proprio, sugere (não obriga) que quantos celebram com o antigo missal, celebrem também com o novo: “Consequentemente, quem celebra segundo o uso antigo deve evitar deslegitimizar o outro uso”. Também porque seria paradoxal que a missa culminante com a eucaristia, sacramento da unidade e da paz, “acabe por tornar-se sinal de divisão, de discórdia”.
A este propósito Mons. Bux observa que “serviram-se da liturgia, como bandeira de identidade, não apenas alguns grupos tradicionalistas para afirmar o fundamentalismo católico, como também não poucos progressistas para reivindicar o autonomismo de marca protestante e não-global (vide as bandeiras da paz içadas sobre igrejas e diante de altares)”.
Bux
Em suma, é necessária uma “reforma da reforma”, que ao contrário daquela pós-conciliar venha de baixo e não seja imposta pelos especialistas, porque “se a antiga liturgia era um fresco coberto, a nova arriscou perdê-lo pela técnica agressiva usada na restauração”. “A reforma litúrgica – escreve o teólogo – não é de fato perfeita e acabada: há necessidade de correcções e integrações, procedendo entretanto de modo diferente da época pós-conciliar, não impondo obrigações senão aquelas necessárias, esclarecendo as possibilidades e promovendo o debate”.
O escopo último da liturgia é o encontro com o mistério, a redescoberta de uma nova sensibilidade, um adequado espaço para o sagrado, para o silêncio, para a escuta, para evitar que a liturgia se transforme – como infelizmente sói acontecer – em “exibição de actores e inundação de palavras”.
Com o livro, simples mas importante, Bux se propõe a “ajudar a compreender e a celebrar dignamente a liturgia como possibilidade de encontro com a realidade de Deus e causa da moralidade do homem, a ler as degradações como sintoma de vazio espiritual indicando o caminho para restaurar o espírito no seio da unidade da fé apostólica e católica, a promover um debate sério e um caminho educativo seguindo o pensamento e o exemplo do Papa que permita retomar o movimento litúrgico”.
Fonte:Oblatvs
Fotos:New Liturgical Movement