Il quarto segreto di Fátima |
Antonio Socci, jornalista e escritor, é um celebrado vaticanista. Nasceu em 1959 em Siena.
Correspondente de “Il Sabato”, dirigiu a revista 30 Giorni, foi vice-diretor da RaiDue, e atualmente dirige a Escola de Periodismo radiotelevisivo de Perugia, da RAI.
Tendo proximidade com o então Cardeal Ratzinger, este lhe concedeu várias entrevistas, que foram muito difundidas na imprensa internacional. Dedicou a Bento XVI a obra em comento.
“O Quarto Segredo de Fátima”[1] é um livro que em 2007 despertou muita celeuma na Itália, especialmente em Roma. Não apenas por seu conteúdo, mas também pelas personalidades que intervieram numa polêmica memorável.
O contexto histórico dos segredos de Fátima
Edição em língua portuguesa |
Para situar o livro em seu contexto histórico, é necessário recordar que nas aparições de Fátima, em 1917, a Mãe de Deus entregou aos três pequenos pastores — Lúcia, Jacinta e Francisco — um segredo que consta de três partes. As duas primeiras partes foram publicadas no início da década de quarenta. Seu conteúdo essencial, muitos anos antes, era conhecido pelas autoridades eclesiásticas. A primeira parte do Segredo, fala de algo que hoje grande parte do clero se empenha em calar: a realidade do inferno, para o qual irão as almas que não se converterem. A segunda parte, contém profecias de castigos para a sociedade moderna, se esta não se converter a Deus. Parte dessas profecias já se cumpriu, mas há outros elementos de grande relevância que ainda estão por se cumprir.
A terceira parte do Segredo (o famoso “Terceiro Segredo”) devia ter sido publicada, o mais tardar, no ano de 1960, dois anos antes do início do Concílio Vaticano II. Porém o Papa João XXIII, depois de lê-la, opôs-se à sua publicação, ordenando que a Irmã Lúcia silenciasse sobre o tema.
E assim, o Segredo foi mantido sob sete chaves até o ano 2000, quando o então Cardeal Ratzinger, juntamente com o então Arcebispo Tarcisio Bertone, o divulgaram perante a imprensa mundial.
O Prefeito e o Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé divulgaram o III Segredo no ano 2000
O Segredo divulgado começa a ser questionado
No ano 2001, de uma maneira bastante polêmica, Laurent Morlier, em seu “Le Troisième Secret de Fatima publié par le Vatican” (Editions DFT, 2001), exibiu as provas documentais a partir das quais se tornou razoável concluir que o Cardeal Ratzinger não deu a conhecer o manuscrito autêntico que contém o Terceiro Segredo. Morlier chegou até mesmo a acusar setores do Vaticano de ocultarem o Terceiro Segredo.
Um ano depois, o vaticanista italiano Marco Tosatti avaliou as críticas e realizou sua própria investigação, publicando “Il segreto non svelato, Non tutto è stato detto: le profezie di Fatima celano ancora un mistero”, (Piemme, 2002). Logo surgiram repercussões destas e de outras publicações, não obstante o pesado silêncio por parte da imprensa ligada aos setores eclesiásticos.
Após a morte da Irmã Lúcia, em 2005, surgiram novos elementos, que asseguram a existência de dois escritos, um dos quais — o mais importante — ainda não teria sido divulgado. Ao que parece, importantes setores da Cúria Romana não disseram toda a verdade.
Mons. Loris Capovilla |
Estimulado pelo problema, o jornalista e escritor católico Solideo Paolini começou a investigar. Depois de publicar suas conclusões no livro “Fatima. Non disprezzate le profezie” (Segno, 2005), Paolini procurou o antigo secretário pessoal de João XXIII, o bispo Mons. Loris Capovilla, e o entrevistou em seu retiro, perto de Bérgamo, em 5 de julho de 2006. Mons. Capovilla se mostrou circunspecto, mas lhe revelou que Paulo VI havia lido o Segredo em 27 de junho de 1963, e não em 27 de março de 1965, como afirmava Mons. Bertone.
Posteriormente, ao ser interpelado sobre essa discrepância, Mons. Capovilla confessou:
— “Ah, quem sabe se o envelope de Bertone não é o mesmo que o envelope de Capovilla!”
— Mas então há dois textos?
— Exatamente.”
Conhecidos vaticanistas que haviam defendido pela imprensa italiana a posição do Vaticano, recuaram a partir da morte da Irmã Lúcia. Vittorio Messori — o escritor católico mais lido da Itália — publicou então o artigo intitulado “Segreto di Fatima, sigillata la celda de sor Lucia”,no qual manifestou suas dúvidas sobre a publicação do Terceiro Segredo. Antonio Socci, que havia defendido o Vaticano das críticas lançadas por setores tradicionalistas, mudou honestamente de posição depois de realizar substanciosa investigação.
A tese de Antonio Socci
Antonio Socci |
Em seu livro “Il quarto segreto di Fatima”, que agora comentamos, Socci prova a existência de dois manuscritos. Apresenta a história de ambos, desde a sua gênese, e o desenvolvimento histórico que tiveram. Conclui que o manuscrito publicado pelo Vaticano no ano 2000 não está completo.
Faltaria o manuscrito que corresponde às palavras da Virgem, e que explicam a visão divulgada pelo Vaticano. A este manuscrito, o autor o chama “o Quarto Segredo”, provavelmente para não criar problemas para Bento XVI. Este conteria o Terceiro Segredo autêntico, que Pio XII recebeu pessoalmente e o guardou em seus aposentos.
Um dos pontos mais dramáticos do livro de Socci é a constatação de que os mesmos papas que veneraram as aparições de Fátima, que reconheceram como vinda do Céu a sua Mensagem, omitiram-se em atender — em todas as suas implicações — aos pedidos que a Mãe de Deus fez ao Papado. Impressiona, sobretudo, a atitude de João XXIII, que inaugurou o Concílio Vaticano II falando contra “os profetas de desgraças” e a favor do “diálogo com o mundo moderno”, sem levar em conta que todos os profetas do Antigo e do Novo Testamento anunciaram desgraças se os homens — se o mundo moderno — não se convertessem.
Socci conclui seu livro solicitando a Bento XVI que publique, para o bem da Igreja e do mundo, o que ainda resta por revelar do Terceiro Segredo. A verdade não faz mal a ninguém.
A reação de alguns setores eclesiásticos ao livro de Socci foi chocante. Em maio de 2007, o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, acusou Socci de ser maçom (!), de querer prejudicar a Igreja e outras acusações no mesmo estilo. Socci respondeu com uma carta aberta ao Cardeal, instando-o a que provasse suas afirmações e não fugisse do mérito do assunto Fátima com atitudes tão pouco sacerdotais.
Esta é a questão: Socci diz que há dois textos, e que o Vaticano publicou só um. Não obstante, nós pensamos que há um só texto, precisamente o que não foi publicado.
Finalmente, não podemos deixar de mencionar o fato de que o livro de Socci, na prática, foi censurado por certa imprensa católica dócil às correntes eclesiásticas que consideram inoportuno falar com seriedade da Mensagem de Fátima, ou que, de modo equivocado, já têm por cumpridas todas as suas dimensões proféticas.
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NOTAS:
[1] “Il quarto segreto di Fátima”. Antonio Socci. Ed. Rizzoli, Milano, 2006, 249 pp.
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* Julio Alvear Téllez, editor do blog La Reacción Católica.
Tradução: André F. Falleiro Garcia.
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fonte:sacralidade